quarta-feira, 9 de junho de 2010

Racha comigo uma corrida?

Por Guilherme Aragão

O ronco do motor, a alta velocidade, a adrenalina, os gritos de medo das “minas”, o olhar competitivo dos “brothers”, o coração batendo forte conforme a música em volume ensurdecedor, o racha!

Quanto mais rápido e perigoso for, melhor fica, mais o coração pulsa, mais adrenalina no sangue, mais gritos histéricos das “marias-gasolina”, maior o desejo de continuar o racha! É possível ver este tipo de ação em filmes como Velozes e Furiosos. Tirando as marias-gasolina e alguns super-carros, estas cenas se transportam das telas do cinema e da TV para as ruas do mundo real.

Em Santos, as avenidas Francisco Glicério e Ana Costa são favoritas de quem pratica. Em São Vicente, o ponto é na Avenida Martins Fontes. O evento não se repete mais com tanta frequência por causa dos radares, mas ainda há quem gosta de levar a potência dos veículos ao limite.

O microempresário Jonathan Scandalo, de 23 anos, com um investimento de aproximadamente R$ 37 mil, adquiriu e “tunou” um Fiat Punto 1.8 que utiliza para ir ao trabalho, passear com a família — que não tem a menor ideia sobre a sua “vida secreta” – e alguns amigos e para rachas nos fins de semana. O perigo é constante e a tensão aumenta a cada salto do velocímetro. A sensação de estar cometendo um crime é nula e não assusta Jonathan, pois afinal de contas ele não está matando ninguém!

O paradoxo se torna mais complexo quando entra a figura do seu pai, cabo da Polícia Militar. “Meu pai tem que correr atrás de bandido, de quem está matando gente por aí. Que crime eu estou cometendo?”.

A maioridade e a independência financeira deram a Esquilo, como é conhecido entre seus amigos, o passaporte para fazer o que quiser com o seu carro nas noites de sexta e sábado. “Não tenho filho, não sou casado, estou solteiro, não gasto o meu dinheiro com nada. Pago minhas contas e o que sobra eu invisto na própria loja e no carro. Não estou nem aí para o que os outros pensam sobre mim”.

Os acidentes são nulos, até o momento. Porém são as únicas coisas neste “esporte” que o preocupa. Enquanto ele se manter infalível, sua “identidade secreta” estará segura.

Mas, como tudo na vida, houve também a primeira vez de Esquilo, que recorda muito bem do convite feito por um de seus amigos de faculdade. “O pessoal queria ir para um barzinho depois da aula. Eu logo aceitei”. Mal sabia ele que estava rumando para aquilo que se tornaria o seu ópio. No meio do caminho encontraram outros rapazes e marias-gasolina, importantíssimas quando se trata do assunto. Um de seus amigos, cujo apelido é Tico, o apresentou e logo lançou o desafio. Quem perdesse iria pagar a cerveja da noite. “Aí, o Tico perdeu e pagou uma caixa de cerveja para galera. Depois disso, eu passei a sair com eles sempre e às vezes rolava um ‘peguinha’ só pra descontrair”.

“Não é nada programado, a galera se encontra num bar qualquer e começamos a correr”. Em seu caso, nada é programado, tudo depende do estado de espírito de seus companheiros; estar ou não a fim de “tirar um”. Mas há casos em que há organizações clandestinas – obviamente – que promovem encontros muito bem estruturados. Alguns desses eventos são regados de bebidas e, muitas vezes, com drogas. Nas cidades do grande ABCD tais eventos são freqüentes e atraem a atenção de muitos jovens de classe média alta.

O ‘esporte’ chama a atenção milhares de pessoas em todo o Brasil, de modo que comunidades sobre o tema são facilmente encontradas em sites de relacionamento. E, quando se pergunta para qualquer um que pratica o esporte o que eles procuram, a resposta é unânime: Adrenalina.


(...)

Leia a matéria na íntegra na edição 1

Equipe RUA

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