quarta-feira, 9 de junho de 2010

No tempo do meu avô...

Por Gustavo Delacorte
Fotos: Arquivo

Lambretas correndo pelas ruas, a poucos centímetros do público, extasiado pelas pequenas e endiabradas máquinas, rasgando o asfalto a cerca de 130 km/h. O cenário pode parecer distante da realidade paulista e digno de um filme europeu, mas já foi realidade nas ruas e nos canais de Santos

entre as décadas de 1970 e 1980.

O comerciante Francisco Velasco (foto - primeiro no pódio), experimentou a sensação da velocidade sobre duas rodas pela primeira vez em 1962. Tinha 17 anos e trabalhava em uma oficina mecânica há apenas alguns meses. Poucos, mas
suficientes para despertar nele uma paixão que dura até hoje. Com o dinheiro que ganhava trabalhando na oficina, Velasco adquiriu sua primeira lambreta. “Parcelei. Pagava 10 mil por mês, com o dinheiro que eu ganhava na oficina. Aprendi tudo sobre motores com apenas seis meses de trabalho”, conta.


E foi com ela que tudo começou. Inspirado nas corridas de bicicleta promovidas por seu pai, Velasco alinhou sua motoneta com outras 85 no grid do autódromo José Carlos Pace, imortalizado pela Fórmula 1 como “Interlagos”, para a disputa de uma prova que teve seis horas de duração.

“Havia 86 lambretas na pista. Durante a corrida, tive que parar nos boxes por um problema mecânico. Demorei para voltar, pois precisei encontrar o defeito e arrumá-lo.

Sabe em que colocação fiquei? Trigésimo oitavo”, conta. “Mas fiquei mal depois da prova. Foram seis horas, sem troca de pilotos. Não conseguia abrir as minhas mãos na hora de descer da moto. Para soltar dos manetes, tive que tirar as mãos como se ainda estivesse os segurando”, completa, simulando o drama vivido.

Velasco correria novamente em Interlagos, inclusive com motocicletas maiores em tamanho e potência. Mas, antes, teria disputas, digamos, bem mais emocionantes, pelas ruas de diversas cidades do interior de São Paulo, entre elas Santos.

“Foi daí que começou. Corri em Rio Claro. Peguei o quarto lugar, se não me engano. Depois, mudei para Assis. As corridas eram sempre na rua. Minha primeira corrida foi em Rio Claro, mas em Assis tinham muitas também”.

O apoio para correr em cidades diferentes vinha das prefeituras e de amigos que também corriam. “Geralmente, um caminhão da prefeitura levava das motos. Em Assis, por exemplo, a levavam para Presidente Prudente quando havia corridas lá”.

“Na Baixada Santista, corri umas 20 vezes. Teve no Casqueiro, em Cubatão. Passava pela Avenida 9 de Abril. Em Vicente de Carvalho também teve. Em Santos, foram muitas. Embora tenha vindo morar aqui em 1968, só passei a fazer parte da organização mais ou menos em 1980”, diz.

Na primeira vez em que veio correr em Santos, Velasco morava em São Paulo. “Um amigo trouxe minha lambreta para Santos em seu caminhão. Nós (os corredores) tínhamos muitas dificuldades para tudo. Lembro de ter corrido no canal quatro, pois me lembro de passar por ele durante a corrida. Também houve no canal sete. O trajeto passava pela casa do Pelé (hoje, no lugar, há um prédio), pela praça onde fica o Rebouças. Também teve corrida na Vila Belmiro”.

As provas eram organizadas pelo Santos Moto Clube, que Velasco chegou, inclusive, a presidir quando passou a se envolver com a coordenação das provas na região. “O Santos Moto Clube organizava as provas, pois era filiado da Federação Paulista de Motociclismo, e corria atrás de tudo, troféus, e patrocínio, quando dava. Era bem organizado. Tinha que mandar um ofício para a secretaria de esportes. Tinha que ter policiamento e ambulâncias, se não a prefeitura não autorizava”.

Não existia patrocínio fixo ou prêmios em dinheiro para os vencedores. Apenas a paixão pela velocidade e pelas lambretas os movia. “O que dá dinheiro é a Fórmula 1. Nós corríamos apenas pela paixão”, diz Velasco. O público prestigiava bem as provas na Baixada Santista, mas as corridas ferviam mesmo nas cidades do interior de São Paulo, onde verdadeiras multidões compareciam nos locais marcados para acompanhar as corridas.

“No interior era bem mais forte. Em Presidente Prudente, havia um ‘troféu transitório’, como na Copa do Mundo. Quem ganhava duas vezes seguidas levava. E eu o ganhei”, revela.

O veterano das duas rodas conta ainda que, em uma corrida disputada em São Paulo, recebeu o troféu das mãos do então governador da Capital. Uma vez, corri na Vila Maria, em São Paulo. Sabe quem foi entregar? O Carvalho Pinto, governador na época. Não lembro o ano exato, 65, 67, por aí”.

(...)

Leia a matéria na íntegra na edição 1

Equipe RUA



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