quarta-feira, 9 de junho de 2010

Gostar de se machucar

Por Maurílio Carvalho

“Quebrei a minha perna em um rolê na pracinha em frente ao Moby. Teve um final de ano que eu passei engessado!”, conta Fabiano Martins Pereira, o Biano, dono de uma loja de artigos de skate.

Biano nunca imaginou que o hobby iria virar o seu sustento: “Quando eu tinha de 7 para 8 anos, morava na rua Alamir Rodrigues, no Gonzaga. Foi quando eu vi o skate pela primeira vez. Meus pais não gostavam muito que eu andasse porque achavam que iria me machucar. Acho que por isso nunca me compraram um skate”.

Com 13 anos, Biano começou a trabalhar numa loja de videogame. Com esforço, comprou o primeiro skate. Aos 17 anos, surgiu a oportunidade de montar uma loja. Biano ficou em dúvida entre um estabelecimento para venda de artigos de games ou skate. Preferiu o seu hobby: “Tenho a loja faz dez anos e vivo do skate. Não tenho ideia do que seria se o skate não existisse, pois minha vida se resume a isso hoje”.

Aos 9 anos de idade, Douglas Amaral de Souza Pierre, o Doug, usava a rampa do prédio onde morava, no Conjunto Habitacional Athiê Jorge Cury, em Santos, para brincar de corrida sentado em skates. “Na época, minha mãe me deu dois skates fuleiros”, conta.

Quando tinha 11, Doug ficava admirado com o que seu amigo mais velho fazia com o skate: “Maurício mandava uns ollie, a manobra base do skate, e eu achava um máximo. Acabei comprando o skate dele por quarenta reais na época”.

Em 1998, Doug se mudou para a Avenida Conselheiro Nébias e começou a andar na Fonte do Sapo, lugar de encontro de skatistas na época. Daí para a Praça Palmares, complexo próprio para a prática do esporte em Santos, foi um pulo. Ou melhor, um ollie.

Você já deve ter percebido que o skate não é apenas um esporte. O skate é a cara da cultura de rua e um grande filão de uma grande indústria segmentada que fatura muito com a prancha com rodinhas. Vários jogos de videogame já foram lançados tendo o esporte como tema, sendo a série “Tony Hawk Pro Skater” a mais famosa entre os gamers. Na rua, o skate dita moda. “Você pode perceber que toda linha street wear é baseada no skate. Calças skinny, bonés de aba reta e diversos outros artigos estão ligados diretamente ao estilo dos skatistas”, conta Biano.

Para Biano, em Santos há uma mescla de esportes que não existe em São Paulo. “Acho que o pessoal de Santos não leva tão a sério o skate como em sampa. Aqui, os caras andam de skate e surfam, mas em São Paulo é só o skate e lá tem aquela coisa do cara querer ser skatista profissional, que não vejo aqui”.

Em relação à música que os skatistas ouvem, os estilos são variados, mas a preferência no som é o hardcore e o hip hop. Bandas como Millecolin, NoFX e Dag Nasty tem destaque, enquanto Cypress Hill e Beast Boys agradam aos fãs de rap. Um dos expoentes do hardcore nacional, o Dead Fish, surgiu da ideia de amigos que andavam de skate juntos em 1991, em Vitória, no Espírito Santo. Os garotos escutavam bandas como NoFX e Fugazi e resolveram fazer o próprio som.

No mundo dos games, o skate também tem grande presença. O primeiro jogo lançado com o tema foi Skate or Die!, da Eletronic Arts, em 1988. Já com grande fama e notoriedade no esporte, Tony Hawk deu nome para a série de jogos de maior sucesso dos videogames. Em 1999, surgiu o primeiro jogo da linha Tony Hawk Pro Skater, produzidos pela Activision. Em 2007, a Eletronic Arts subiu no shape novamente e lança o simulador Skate. Em maio deste ano foi lançado o terceiro jogo da linha.

O skate é um esporte em eterna evolução, mas que não fascina apenas por isso. A cultura criada em volta dele o torna um estilo de vida diferenciado do que vemos no nosso dia-a-dia, criando um universo fascinante que ainda fará a cabeça de muitos jovens por muito tempo!


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Leia a matéria na íntegra na edição 1

Equipe RUA

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