Texto e fotos: Luiz Felipe Lima
No asfalto, quatro chinelos, dois para cada lado, formam uma quadra de futebol de salão improvisada; distância de quatro passos de um chinelo para o outro, uma bola que às vezes não está na melhor condição e três pessoas para cada lado, num total de seis. Esse é o imortal futebol de rua — ou pelada — praticado até hoje pelo país afora.
O futebol de rua é diferente de qualquer outro. Quem joga não tem vontade de parar. Não há definição em relação às regras porque e
xistem diversas modalidades e todas diferentes das praticadas em campos de futebol profissional ou mesmo nos campeonatos de futsal. As peladas não possuem árbitros de futebol e nem o impedimento, que causa tanta
polêmica. Na rua, simplesmente o jogador fica na frente da linha da bola ou na “banheira” e faz o gol. É válido. Ou seja, as regras são aplicadas pelos próprios jogadores.
Com tantas crianças e adultos que praticam esse esporte de rua desde os tempos dos nossos bisavôs, muitas delas, ao longo do tempo, ganham destaque e são lançadas no mercado do futebol, caso do menino da Vila, Robinho. Ele foi descoberto jogando bola na rua,
Marmanjos de várias idades já jogaram bola na rua, porque afinal quem é brasileiro pelo menos uma vez na vida jogou bola ou então é apaixonado por esse esporte encantador. Ultimamente até mesmo as meninas vêm jogando bola na rua e, de certa forma, adquirindo o aprendizado do que é jogado profissionalmente. Longe dos gramados ou quadras as meninas aprendem a serem “homens” jogando bola e sentindo na pele como é a vida de um jogador e o que este enfrentou para chegar onde está.
Gabriela dos Santos Martins (foto), de 14 anos, é a prova de que o futebol, ainda mais de rua, também pode ser praticado por mulheres interessadas. Ela joga bola na rua desde os quatro anos de idade, mesmo contra a vontade dos pais. Nunca deu ouvidos para os meninos preconceituosos, já que todos dizem que o futebol é coisa de homem e não de mulher. Gabriela sempre jogou e quase sempre é uma das primeiras a ser escolhidas para defender determinado time. Tudo por causa do talento com a “gorduchinha” e pela força de vontade de querer ganhar. Não se importa com quem está jogando ou a idade. “Vai para cima” e joga muito bem.
Gabriel dos Santos Martins, irmão gêmeo, também joga bola tempo na rua. Ele gosta bastante do futebol e costuma jogar somente com os moleques de sua idade. Gabriel gosta de fazer o “contra”. No bairro onde mora, o Saboó, isso é realizado da seguinte maneira: é como se fosse uma partida de futebol de campo de verdade, mas normalmente é disputado com adversários com os quais a turma do bairro não está habituado a jogar. Muitas vezes o “contra” é disputado valendo prêmio, pode ser desde um troféu — quando existe uma organização legal por parte do pessoal que joga na rua — até um refrigerante de dois litros, disputado em partidas menos sérias.
Wagner de Sousa Santos, de 33 anos, trabalha com logística. Ele diz que a principal característica do futebol é o jeito de jogar sem seguir regras, como fazer tabela com as paredes, usar o meio-fio para fazer gol e fazer
tabelas e a discussão que sempre tem em todo o futebol. “O mão na bola ou bola na mão”. Neste caso, sempre vence quem possui o melhor argumento ou quem é mais velho. Wagner admite que sempre ganha diante dos menores.
A professora de educação física Viviane Mendes de Goes diz que o esporte na rua traz benefícios e malefícios à saúde, em especial o futebol de rua. “O futebol praticado na rua possui um lado bom, como tirar a criança que fica na frente do computador ou do videogame, que por falta de espaço nas ruas acaba se tornando uma pessoa sedentária”. Ela diz que todo o tipo de esporte sempre precisa de um acompanhamento profissional especializado, pois cada um possui um organismo e estruturas diferentes.
Para Viviane o futebol de rua seria mais proveitoso caso os jogadores antes de começarem a praticar, se aquecessem e se alongassem. “Vejo frequentemente pessoas que se machucam sozinhas por falta de preparo físico, por falta de uso de tênis e outros equipamentos adequados para praticar o futebol com segurança.” Ela cita o exemplo do pai, que tem 65 anos e até hoje joga bola na rua ou no campo. “Pode-se dizer que ele é preparado para o esporte, pois fez todos os tratamentos adequados antes de começar a praticar, tratamentos como passar por um nutricionista, cardiologista e outros especialistas. E o que ele me transmite é que ele vive pelo futebol, mesmo porque ele tem diabetes, pressão alta e problemas no coração. Se um dia parar de jogar, ele pode morrer de repente”, diz Viviane.
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Equipe RUA
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