quarta-feira, 9 de junho de 2010

Batendo uma bolinha na rua

Texto e fotos: Luiz Felipe Lima

No asfalto, quatro chinelos, dois para cada lado, formam uma quadra de futebol de salão improvisada; distância de quatro passos de um chinelo para o outro, uma bola que às vezes não está na melhor condição e três pessoas para cada lado, num total de seis. Esse é o imortal futebol de rua — ou pelada — praticado até hoje pelo país afora.

O futebol de rua é diferente de qualquer outro. Quem joga não tem vontade de parar. Não há definição em relação às regras porque e

xistem diversas modalidades e todas diferentes das praticadas em campos de futebol profissional ou mesmo nos campeonatos de futsal. As peladas não possuem árbitros de futebol e nem o impedimento, que causa tanta

polêmica. Na rua, simplesmente o jogador fica na frente da linha da bola ou na “banheira” e faz o gol. É válido. Ou seja, as regras são aplicadas pelos próprios jogadores.

Com tantas crianças e adultos que praticam esse esporte de rua desde os tempos dos nossos bisavôs, muitas delas, ao longo do tempo, ganham destaque e são lançadas no mercado do futebol, caso do menino da Vila, Robinho. Ele foi descoberto jogando bola na rua, em São Vicente, e hoje o mundo inteiro o conhece o rei das pedaladas.

Marmanjos de várias idades já jogaram bola na rua, porque afinal quem é brasileiro pelo menos uma vez na vida jogou bola ou então é apaixonado por esse esporte encantador. Ultimamente até mesmo as meninas vêm jogando bola na rua e, de certa forma, adquirindo o aprendizado do que é jogado profissionalmente. Longe dos gramados ou quadras as meninas aprendem a serem “homens” jogando bola e sentindo na pele como é a vida de um jogador e o que este enfrentou para chegar onde está.

Gabriela dos Santos Martins (foto), de 14 anos, é a prova de que o futebol, ainda mais de rua, também pode ser praticado por mulheres interessadas. Ela joga bola na rua desde os quatro anos de idade, mesmo contra a vontade dos pais. Nunca deu ouvidos para os meninos preconceituosos, já que todos dizem que o futebol é coisa de homem e não de mulher. Gabriela sempre jogou e quase sempre é uma das primeiras a ser escolhidas para defender determinado time. Tudo por causa do talento com a “gorduchinha” e pela força de vontade de querer ganhar. Não se importa com quem está jogando ou a idade. “Vai para cima” e joga muito bem.

Gabriel dos Santos Martins, irmão gêmeo, também joga bola tempo na rua. Ele gosta bastante do futebol e costuma jogar somente com os moleques de sua idade. Gabriel gosta de fazer o “contra”. No bairro onde mora, o Saboó, isso é realizado da seguinte maneira: é como se fosse uma partida de futebol de campo de verdade, mas normalmente é disputado com adversários com os quais a turma do bairro não está habituado a jogar. Muitas vezes o “contra” é disputado valendo prêmio, pode ser desde um troféu — quando existe uma organização legal por parte do pessoal que joga na rua — até um refrigerante de dois litros, disputado em partidas menos sérias.



Wagner de Sousa Santos, de 33 anos, trabalha com logística. Ele diz que a principal característica do futebol é o jeito de jogar sem seguir regras, como fazer tabela com as paredes, usar o meio-fio para fazer gol e fazer

tabelas e a discussão que sempre tem em todo o futebol. “O mão na bola ou bola na mão”. Neste caso, sempre vence quem possui o melhor argumento ou quem é mais velho. Wagner admite que sempre ganha diante dos menores.

A professora de educação física Viviane Mendes de Goes diz que o esporte na rua traz benefícios e malefícios à saúde, em especial o futebol de rua. “O futebol praticado na rua possui um lado bom, como tirar a criança que fica na frente do computador ou do videogame, que por falta de espaço nas ruas acaba se tornando uma pessoa sedentária”. Ela diz que todo o tipo de esporte sempre precisa de um acompanhamento profissional especializado, pois cada um possui um organismo e estruturas diferentes.

Para Viviane o futebol de rua seria mais proveitoso caso os jogadores antes de começarem a praticar, se aquecessem e se alongassem. “Vejo frequentemente pessoas que se machucam sozinhas por falta de preparo físico, por falta de uso de tênis e outros equipamentos adequados para praticar o futebol com segurança.” Ela cita o exemplo do pai, que tem 65 anos e até hoje joga bola na rua ou no campo. “Pode-se dizer que ele é preparado para o esporte, pois fez todos os tratamentos adequados antes de começar a praticar, tratamentos como passar por um nutricionista, cardiologista e outros especialistas. E o que ele me transmite é que ele vive pelo futebol, mesmo porque ele tem diabetes, pressão alta e problemas no coração. Se um dia parar de jogar, ele pode morrer de repente”, diz Viviane.



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Leia a matéria na íntegra na edição 1

Equipe RUA

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