“É uma evolução do seu ser. O resgate do seu primitivo, pois antes nós vivíamos na natureza e nos movimentávamos como os macacos e hoje, por causa da evolução dos carros e demais meios de transporte, somos muito limitados”, explica o analista de sistemas de 29 anos, Rodrigo Medeiros.
Manga, como é mais conhecido, gosta de todo tipo esporte radical, principalmente do surfe. Mas desde que o Parkour entrou na sua vida, há quatro anos, virou a sua principal atividade física. Para ele, é uma válvula de descarga
Manga acha que o Parkour ajuda a superar os medos, pois você começa a pensar diferente sobre as mais diversas situações. “Superei o medo de assalto, pois penso na possibilidade de simplesmente fugir. Correr e despistar o ladrão”.
Antes de fazer qualquer movimento você analisa e por isso a concentração é importante. “Você tem uma idéia do que pode e do que você não pode. E você faz dentro do que você pode. Com o treino você ganha cada vez mais capacidade. Você vê que pode ir muito mais, sempre avançando. Eu ultrapasso todos os limites através dos meus treinos. É assim que funciona o Parkour”, esclarece Acre.
Elas também podem
Elas também podem! Pulam, correm, saltam, rolam, escalam... Tá pensando o quê? Elas não dão moleza, não! Agora é a vez das garotas! “Achei que seria muito tenso, mas acabou sendo tranquilo. Bem, pelo menos eu me senti assim. Lembro o medo de me equilibrar num murinho menor que eu, cerca de um metro, e a tentativa de subir outro muro. É legal lembrar o primeiro treino e ver como você está hoje, é gratificante. Essa autoconfiança que acabamos tendo nos treinos é refletida no dia a dia, sua autoestima também, a sensação de ‘eu consigo’”, conta a traucense Fernanda Caroline de Lira Teixeira, a Lince, de 16 anos, ao relembrar do seu primeiro treino no Parkour.
Lince conta que a maior dificuldade de treinar Parkour para as mulheres é a força física, principalmente nos braços. Elas têm de se esforçar mais, exercitar e fazer flexão de braço para adquirir a força necessária para os treinos. “Temos que treinar bem mais que eles, ter mais disciplina e força de vontade. O lado bom é que temos mais resistência!” Apesar dessa diferença, Lince, que começou por curiosidade no Parkour, não pensa em parar: “Está no meu dia a dia agora, sempre faço alguma coisa, seja uma série de flexão, ou me equilibrar no meio-fio”. Perguntei como ela esta hoje no Parkour. Ela respondeu rindo “Melhor que ontem”. Lince diz estar sempre em evolução. “Tem sempre algo a aperfeiçoar, algum medo a ser quebrado ou objetivo alcançado”.
O limite que a traceuse quer superar no Parkour é ter um maior salto de precisão. “O meu salto de precisão é de oito pés de distância, mas tem um lugar onde precisaria de dois pés a mais para executar. Então eu começo a treinar uma série de exercícios para impulsão, impacto e fortalecimento dos membros inferiores até conseguir fazer o salto de
Ela classifica o Parkour como o movimento natural do ser humano. “Não vejo como um esporte. Sempre me lembra aquelas brincadeiras de crianças que fazíamos, pulando e achando caminhos alternativos. Só que neste caso, crianças crescidas. Se você parar e prestar atenção são coisas naturais que o ser humano é capaz de fazer. Geralmente, o normal de hoje é andar ou dirigir”.
A estudante treina com homens e mulheres. Ela conta que
Uma das companheiras de treino de Lince é a estudante Catiele Serejo dos Santos, de 18 anos. As duas praticam o Parkour há menos de um ano e querem levar isso pra vida toda. Cat, como é conhecida, ia aos treinos por diversão mesmo, buscar adrenalina. Mas depois essa visão foi mudando. “O que me prendeu ao Parkour foi a atmosfera. Algo que não senti em nenhum outro lugar. Quando vi um cara saltando de um lugar tão alto e distante, do meu lado, assim de forma tão natural, na hora aquilo me prendeu. Eu também queria sentir aquilo, não somente a adrenalina, mais aquele sentimento indescritível de liberdade e satisfação”.
As meninas contam que a recepção nos treinos pelos homens hoje está mais amigável do que há dois anos. Segundo as garotas, eles dão muito apoio. “Às vezes, eles ficam sem saber o que fazer, já que o nosso corpo é diferente do corpo deles. Tem aquela coisa de pegar mais leve com a gente. Fico feliz das meninas estarem cada vez mais mostrando do que são capazes”, conta Lince.
As duas adoram o fato de no Parkour não haver competição, Lince diz ser algo sensato. “O ser humano sempre está em luta com o próprio ego. Para isso, ele passa por cima de outra pessoa. Sempre foi assim”, diz. Para ela, a partir do momento que a pessoa tem a ideia de que isso é para competir acaba passando dos limites, não superando, mas desrespeitando o corpo. “Você pode sofrer lesões, sérios machucados. Competição não é algo saudável”, opina a traucense.
Lince diz que algumas amigas falam que vão ficar “machinho” treinando Parkour, mas ela nem liga. As meninas são mulheres e gostam de coisas de mulheres como qualquer outra garota. “Quando não estou de tênis e moletom, estou de vestido e salto alto”, diz Cat. Ela conta que já sofreu muitos preconceitos por ser mulher e treinar Parkour. A chamam de louca, dizem que ela não irá conseguir e que vai quebrar a perna e o braço, que isso não serve para garotas. Mas a traucense não liga, sempre segue em frente. “Já falaram que eu ia parar no primeiro mês, estou quase fazendo um ano e não passou nenhuma vez em minha cabeça sobre desistir, adotei o Parkour como um estilo de vida permanente, o preconceito e desmotivação não me abalam mais”.
Lince mora
As famílias das garotas implicaram no começo. Sempre aquela velha história de que isso não é coisa de mulher. Cat conta que sua mãe reclamava sempre, mas agora aceita melhor. “Meu padrasto não aceita de maneira nenhuma, mesmo com conversas e tudo mais, enfim, só me param se cortarem minhas pernas e braços”.
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Equipe RUA
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