quarta-feira, 9 de junho de 2010

Dançando por uma vida melhor

Por Mariana Ayumi
Fotos: Divulgação


O grupo de dança de rua Action Dance atua há nove anos em Itanhaém. Os dançarinos, divididos em categorias infantil, juvenil e adulto, dão aulas gratuitas a jovens entre 7 e 17 anos de idade. A iniciativa faz parte do projeto Dança em Ação, que visa capacitar os aprendizes para posteriormente integrarem o quadro fixo do Action Dance. Mas a dança é apenas o pontapé inicial de uma série de desafios que o grupo enfrenta no dia a dia.


Histórias de alegria, tristeza, superação e aprendizado não faltam na bagagem de seus criadores, Renan de Souza Lima, de 24 anos; Fernando Ferreira Curcio (foto), de 23; e Nelson Elísio, de 30. Preconceito foi uma delas. “Todos achavam que a dança de rua era coisa de maloqueiro, de gente desocupada, mas agora essa imagem está começando a mudar”, diz Renan Lima.

Do gramado ao salão de ensaio

Para eles, a dança de rua não é apenas diversão, é a válvula de escape para esquecer e ao mesmo tempo aprender a sobreviver num mundo em que é difícil ser levado a sério. Depois de uma rotina de trabalho e estudos, 40 jovens comparecem ao ensaio diário com entusiasmo. Eles sabem que, para continuar no grupo, é preciso ser compenetrado e dedicar-se à tarefa.

O tal tom de brincadeira só existiu no começo do grupo, que surgiu da vontade de reunir os amigos para treinar novos passos e se divertir. “Tudo começou meio na brincadeira, fomos chamando os amigos mais próximos e montamos o grupo. Só na hora de ensaiar é que era difícil, pois não tínhamos lugar; então treinávamos em qualquer local, como no gramado da praia ou qualquer lugar que fosse amplo o bastante. Assim, fomos crescendo junto com o grupo”, conta Lima.


Responsabilidade social

Muitos jovens, quando começaram a frequentar os ensaios, perceberam que o Action Dance não era um grupo qualquer. Para ingressar, é preciso ter disciplina, conduta exemplar, boas notas e frequência escolar. “Teve garoto que quando chegou aqui, não concordava com as regras, com o bem coletivo; então teve problemas para se adaptar, porque exigimos que o jovem leve o projeto a sério e tenha responsabilidade; alguns acabam não aguentando, mas o que a gente quer é que ele fique e adquira essa responsabilidade”, diz Elísio.

Com carga horária de nove horas semanais, os ensaios exigem concentração e foco dos jovens, qualquer deslize pode colocar em risco a participação no grupo. A consciência da importância da dança também se aplica em relação às ações futuras desses jovens. “Depois que os meninos e meninas criam gosto por participar do grupo, eles têm a preocupação de se manter na linha. A menina sabe que, se ela engravidar agora, não vai poder mais treinar, se apresentar, não vai ter mais tempo para si. Com o menino é a mesma coisa, se ele tiver um filho não vai mais estar tão disponível para a dança, porque vai ter de criá-lo”, diz Nelson.

As drogas também fazem parte das páginas tristes da história do Action Dance. Curcio conta que muitos integrantes já saíram porque não conseguiam mais sair desse mundo. “As aulas não se resumem somente ao aprendizado. Nosso trabalho também tem o papel de ajudar essas crianças. Existem meninos que moram em pontos de tráfico, e muitos deles acabam entrando nesse mundo; conseguimos tirar alguns deles das drogas, e isso é que é o mais legal da dança. Então a gente quer mostrar que a dança pode mudar isso, que existe outro caminho”.


Rumo a Las Vegas... outra vez

Mas nas páginas do Action Dance não existem apenas histórias de problemas e infortúnios. Existem aquelas que, ao serem contadas, enchem os olhos dos criadores do grupo de orgulho. A sala de ensaios possui duas bancadas de troféus. “Melhor grupo do Mercosul na Argentina”, “Meeting Hip Hop School”, “Hip Hop International”, “Festival Internacional de Hip Hop”... Esses são alguns dos títulos impressos nos troféus. “Lá fora, a dança de rua é apoiada, as pessoas reconhecem o trabalho que fazemos”, diz Curcio.

A rotina de competições não é fácil. Os ensaios exigem muito dos dançarinos, que tentam conciliar trabalho, família, amizades e estudos com a dança de rua. Além desses fatores, vez ou outra eles precisam competir em outros lugares, alguns até mesmo fora do país, como foi o caso da última viagem, com destino a Las Vegas, nos Estados Unidos. Mas como vida de dançarino realmente não é fácil, um problema logo apareceu. “Todo o grupo foi tirar o visto no consulado americano. Chegando lá, eles não queriam liberar o visto para alguns e ainda disseram ‘Ah, é? Se vocês são dançarinos mesmo, então quero ver vocês dançando agora’”, relata Lima. E eles dançaram.

O que poderia ser considerada uma situação constrangedora, acabou se transformando numa demonstração de como o grupo era unido e tinha jogo de cintura para enfrentar qualquer condição. “Conseguimos o visto, exceto para um integrante, que não tinha como comprovar que tinha emprego fixo. Foi ruim ir desfalcado, mas nessas horas não dá para deixar se abater”, diz Lima.

O grupo não conquistou boa classificação na disputa, mas a experiência será uma das histórias mais marcantes para os integrantes do Action Dance. E nesse ano tem mais. Las Vegas os espera novamente. Só que dessa vez a bagagem vem mais pesada e os integrantes vêm mais preparados... até para dançar novamente no consulado, se for preciso.


(...)

Leia a matéria na íntegra na edição 1

Equipe RUA

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