domingo, 13 de junho de 2010

Minha academia é na praia

Texto e fotos: Lucas Shiomi

Como diz a música: “Meu escritório é na praia...”, por que não existir uma academia na praia?

Se os 16 graus de uma quarta-feira são um bom motivo para você deixar de lado

a malhação e sucumbir à preguiça, isso não é o que

costuma acontecer na Academia Comunitária idealizada por Miguel Lustoza, na divisa de Santos com São Vicente, em plena areia da praia.

É lá que o mecânico vicentino Marcos Rosário, de 42 anos, vai de segunda a sexta-feira dar uma malhada após uma caminhada de 10

quilômetros pela orla da praia. “Malhar aqui não é tedioso como em uma academia fechada. Você não vê o tempo passar e ao invés de ficar olhando para o cronômetro de um aparelho, dá pra olhar o mar. Além do mais, exercício ao ar livre é sempre a melhor opção”, diz.

Rosário começou a malhar com 14 anos, pois queria entrar para o Senai, instituição que exigia na época bom condicionamento físico dos alunos. “As aulas de educação física eram muito puxadas, não eram como na escola. Se eu não estivesse preparado, não ia aguentar”. Hoje, o mecânico continua prezando por sua saúde, pois, segundo ele, não pode pesar mais que 90 quilos, pois tem problemas na coluna.

Os aparelhos da Academia Comunitária, apesar de um pouco desgastados pela ferrugem, ainda exibem sem recalque sua combinação de amarelo com azul, e dividem o lugar com inúmeros coqueiros e pesos moldados no cimento.

O lojista de 35 anos, Fidel de Carvalho (foto), se incomoda em malhar na companhia da areia, e reclama da ferrugem em demasia de alguns aparelhos. Foi um aumento de preço de apenas 20 reais que o fez trocar a academia particular que frequentava pela academia comunitária. Mas Fidel não consegue esconder o seu apego pelo local: “Quando eu tiver com grana, volto para a academia particular. Mas gosto de vir aqui para conversar”.

Na hora das vaquinhas organizadas pelos frequentadores para a manutenção dos aparelhos, 20 reais não parecem pesar tanto em seu bolso. Quem também participa com prazer dessas vaquinhas é o porteiro e professor de capoeira, Josué da Silva Oliveira, de 21 anos. “Acho que esse lugar é uma ótima iniciativa. Tem uma academia muito boa lá na Praia do Itararé, mas nas outras praias da Baixada Santista que eu conheço, não tem. Em Guarujá não tem, em Praia Grande não tem... Acho que deveria ter em outras cidades!”

Para Oliveira, se exercitar ao ar livre é muito melhor do que em uma academia fechada, “abafada” como ele define. “Até algumas aulas de capoeira eu gosto de dar ao ar livre”. Aparentemente, o ingrediente que estimula suas idas à Academia Comunitária Miguel Lustoza é o mesmo que atrai o lojista Fidel (foto): “Aqui somos como uma família, todo mundo é amigo, um ajuda o outro. A galera se conhece, troca telefone, combina umas corridas na praia, churrascos...” Ultimamente, porém, suas idas à academia têm diminuído e os aparelhos também... Oliveira reclama do sumiço de aparelhos, por falta de supervisão: “Quando o auxiliar do Miguel, o Ricci, ficava aqui direto, ele dava conta de tudo. Agora os aparelhos estão sumindo”.

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Equipe RUA

sábado, 12 de junho de 2010

Música para a rua


Por Pâmela Isis
Fotos: Divulgação

Em um final de tarde, entre o movimento constante de carros e pessoas em um dos pontos de maior aglomeração de Santos, surge um som suave de violino e violão. Músicas conhecidas que agradam aos ouvidos dos que passam no local.

Em meio à correria do dia-a-dia, nas ruas da cidade de Santos, os meninos do grupo Tercina levam aos ouvidos de quem passa pelas calçadas a magia das orquestras. Munidos de seus elegantes instrumentos, os jovens a cerca de um ano dedicam suas vidas integralmente levando música de qualidade para as pessoas, que ao passar na rua acabam tornando-se o público principal.

Tudo começou quando os três amigos por diversão decidiram montar um repertório com músicas dos Beatles para sair tocando pelas ruas do Rio de Janeiro. A intenção era apenas se divertir e experimentar algo não muito comum, fazer uma mistura entre violino, viola de arco que são instrumentos de orquestra e um violão comum. Mas antes de chegar às ruas do Rio, decidiram mostrar o talento em Santos.

O que era apenas uma experiência acabou se tornando uma profissão. O grupo assumiu o compromisso de levar até as pessoas música de qualidade. O repertório que começou com Beatles, foi ficando ainda mais sofisticado, com músicas clássicas e MPB. Começaram a surgir também, convites para se apresentarem em festas e casamentos, o que além de fazer uma divulgação do grupo, ainda ajudaria no orçamento.

Desde meninos a música já fazia parte da vida de Robson, Rafael e Leonardo que na adolescência já haviam tentado mais de uma vez forma uma banda de rock, mas acabaram descobrindo no curso de música “Acorde para as cordas” que o rock não era mesmo a praia deles. A guitarra foi substituída pelo violão, as baquetas pela viola de arco, e o baixo pelo som leve do violino.

Sem nenhum apoio financeiro, eles decidiram viver da música. Hoje suas apresentações diárias já possuem lugar fixo, na frente do shopping Miramar, no bairro do Gonzaga e aos finais de semana se apresentam em diferentes feiras livres da cidade.

Robson Peres de 25 anos, diz que sente falta de um apoio da prefeitura de Santos, não para seu próprio grupo, mas para eventos culturais voltado para os jovens. “Santos tem estrutura suficiente para proporcionar experiências artísticas para os jovens, em vários pontos da cidade, muita música, teatro e cursos.” acrescenta ele.

Os jovens músicos sabem que algumas pessoas acham loucura e não levam a sério o que fazem. Mas garantem que outra grande parcela os apóia, inclusive as famílias. “Por nosso trabalho ser autônomo, não temos benefícios iguais aos de um emprego formal, isso acaba gerando certa preocupação, mas o que recebemos em troca é muito mais gratificante do que qualquer outra coisa, as pessoas nos parabenizam por nosso trabalho. Já aconteceu de algumas delas pararem diante de nós chorando emocionadas com nossas músicas, outras ficam admiradas, pois nunca tiveram a oportunidade de ver ou ouvir de perto o som de um violino. A música é a arte que mais engrandece a alma do ser humano e nós levamos isso para o dia corrido de muitas delas que passam por nós.”, diz Leonardo Mallet de 24 anos.

Além de dar um show nas ruas de Santos o grupo Tercina é exemplo de que independente de sua profissão e onde ela seja executada o mais importante é que seja bem feita. “Nós temos orgulho em dizer que somos músicos que fazem da rua seu palco, e amamos o que fazemos.”


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Equipe RUA


quarta-feira, 9 de junho de 2010

O sonho em uma bola

Por Adriele Donadio

No sonho de se tornar um jogador de basquete profissional, muitos jovens almejam o melhor para o futuro, buscando se espelhar nas estrelas do esporte para mudar a sua realidade.

Vagner Alberto Ferreira Borges é um desses jovens. O garoto de 17 anos é bom

filho, aluno, vizinho, amigo... É assim que todos aqueles que convivem com ele o consideram. Dedicado em tudo aquilo

que faz, quase perfeccionista, se veste. Coloca blusa e bermuda largas, tênis com o cano alto. Quer ficar parecido com o ídolo, Michael Jordan. Então vai para a rua. Pois é lá que pratica o seu esporte favorito, o basquete de rua.

Vagner e seus amigos não têm um lugar fixo para se reunir na hora de jogar. Um espaço livre como a rua de casa ou o

Espaço Alvorada, conhecido como “quadradão”, no bairro Jardim Quietude, em Praia Grande. Deu vontade de jogar, eles pegam a bola, penduram a cesta no prego colocado no poste e jogam.

Das belas jogadas ao ponto suado é no bate bola com os amigos que ele pode descontrair. Há um ano e meio, Vagner perdeu o pai. Algo que tumultuou sua vida. Foi no esporte que ele se apegou para se esquecer dos problemas. O esporte deu uma reviravolta nos instantes de profunda tristeza.

Ele trabalha eventualmente como DJ e, diferentemente de muitos dos colegas, Vagner não sonha em um dia se tornar um jogador famoso de basquete de um

grande time. O que o move é o prazer de praticar o esporte:

— Muitos jogam pelada nos fins de semana, mas eu não troco o basquete de rua por nada — diz.

Para ele, o esporte o ajuda a deixar de pensar nos problemas. Vagner mora no Jardim Anhanguera, bairro da periferia de Praia

Grande. Como muitos jovens que moram lá, já recebeu convites para cometer assaltar, usar e traficar drogas; no entanto, jamais aceitou. Em sua vida, o trabalho, estudo e, principalmente, o esporte estão sempre em primeiro lugar. “Na minha vida não há espaço para as coisas erradas”, diz.

Curiosamente a primeira disputa de basquete de que se tem registro um recipiente de vime para colocar pêssegos foi usado como cesta e a bola era de futebol, tudo com muito improviso, isso por volta de 1890. De lá para cá, muita coisa mudou no basquete. Existem regras, bolas e cestas específicas para o esporte, distinções entre o esporte praticado em quadra e na rua.

Jogar basquete na rua é uma tradição antiga importada dos Estados Unidos. Mas assim como no futebol o brasileiro tem seu jeito de jogar. Apesar de o esporte ser praticado na rua, também tem organização. Em 2002, a Central Única das Favelas, a Cufa, criou a Liga Brasileira de Basquete de Rua, a Libbra. Esta entidade desenvolveu as regras para o basquete de rua brasileiro.

Algumas parecidas com basquete tradicional de quadra, como por exemplo, o tempo máximo que um jogador pode fica com a bola na mão. Outras nem tanto, como o número de jogadores na quadra. Das regras desenvolvidas pela Libbra, existe uma que certamente chama atenção no basquete de rua, pois “deve estar sempre presente, é a desmoralização”.

Mas não no sentido de “humilhar” ou ofender o adversário. A intenção é fazer belas jogadas, pois são elas que fazem com que a disputa se torne um espetáculo. Mais do que marcar pontos e fazer boas jogadas, Vagner tem o basquete de rua como parte de sua vida.


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No tempo do meu avô...

Por Gustavo Delacorte
Fotos: Arquivo

Lambretas correndo pelas ruas, a poucos centímetros do público, extasiado pelas pequenas e endiabradas máquinas, rasgando o asfalto a cerca de 130 km/h. O cenário pode parecer distante da realidade paulista e digno de um filme europeu, mas já foi realidade nas ruas e nos canais de Santos

entre as décadas de 1970 e 1980.

O comerciante Francisco Velasco (foto - primeiro no pódio), experimentou a sensação da velocidade sobre duas rodas pela primeira vez em 1962. Tinha 17 anos e trabalhava em uma oficina mecânica há apenas alguns meses. Poucos, mas
suficientes para despertar nele uma paixão que dura até hoje. Com o dinheiro que ganhava trabalhando na oficina, Velasco adquiriu sua primeira lambreta. “Parcelei. Pagava 10 mil por mês, com o dinheiro que eu ganhava na oficina. Aprendi tudo sobre motores com apenas seis meses de trabalho”, conta.


E foi com ela que tudo começou. Inspirado nas corridas de bicicleta promovidas por seu pai, Velasco alinhou sua motoneta com outras 85 no grid do autódromo José Carlos Pace, imortalizado pela Fórmula 1 como “Interlagos”, para a disputa de uma prova que teve seis horas de duração.

“Havia 86 lambretas na pista. Durante a corrida, tive que parar nos boxes por um problema mecânico. Demorei para voltar, pois precisei encontrar o defeito e arrumá-lo.

Sabe em que colocação fiquei? Trigésimo oitavo”, conta. “Mas fiquei mal depois da prova. Foram seis horas, sem troca de pilotos. Não conseguia abrir as minhas mãos na hora de descer da moto. Para soltar dos manetes, tive que tirar as mãos como se ainda estivesse os segurando”, completa, simulando o drama vivido.

Velasco correria novamente em Interlagos, inclusive com motocicletas maiores em tamanho e potência. Mas, antes, teria disputas, digamos, bem mais emocionantes, pelas ruas de diversas cidades do interior de São Paulo, entre elas Santos.

“Foi daí que começou. Corri em Rio Claro. Peguei o quarto lugar, se não me engano. Depois, mudei para Assis. As corridas eram sempre na rua. Minha primeira corrida foi em Rio Claro, mas em Assis tinham muitas também”.

O apoio para correr em cidades diferentes vinha das prefeituras e de amigos que também corriam. “Geralmente, um caminhão da prefeitura levava das motos. Em Assis, por exemplo, a levavam para Presidente Prudente quando havia corridas lá”.

“Na Baixada Santista, corri umas 20 vezes. Teve no Casqueiro, em Cubatão. Passava pela Avenida 9 de Abril. Em Vicente de Carvalho também teve. Em Santos, foram muitas. Embora tenha vindo morar aqui em 1968, só passei a fazer parte da organização mais ou menos em 1980”, diz.

Na primeira vez em que veio correr em Santos, Velasco morava em São Paulo. “Um amigo trouxe minha lambreta para Santos em seu caminhão. Nós (os corredores) tínhamos muitas dificuldades para tudo. Lembro de ter corrido no canal quatro, pois me lembro de passar por ele durante a corrida. Também houve no canal sete. O trajeto passava pela casa do Pelé (hoje, no lugar, há um prédio), pela praça onde fica o Rebouças. Também teve corrida na Vila Belmiro”.

As provas eram organizadas pelo Santos Moto Clube, que Velasco chegou, inclusive, a presidir quando passou a se envolver com a coordenação das provas na região. “O Santos Moto Clube organizava as provas, pois era filiado da Federação Paulista de Motociclismo, e corria atrás de tudo, troféus, e patrocínio, quando dava. Era bem organizado. Tinha que mandar um ofício para a secretaria de esportes. Tinha que ter policiamento e ambulâncias, se não a prefeitura não autorizava”.

Não existia patrocínio fixo ou prêmios em dinheiro para os vencedores. Apenas a paixão pela velocidade e pelas lambretas os movia. “O que dá dinheiro é a Fórmula 1. Nós corríamos apenas pela paixão”, diz Velasco. O público prestigiava bem as provas na Baixada Santista, mas as corridas ferviam mesmo nas cidades do interior de São Paulo, onde verdadeiras multidões compareciam nos locais marcados para acompanhar as corridas.

“No interior era bem mais forte. Em Presidente Prudente, havia um ‘troféu transitório’, como na Copa do Mundo. Quem ganhava duas vezes seguidas levava. E eu o ganhei”, revela.

O veterano das duas rodas conta ainda que, em uma corrida disputada em São Paulo, recebeu o troféu das mãos do então governador da Capital. Uma vez, corri na Vila Maria, em São Paulo. Sabe quem foi entregar? O Carvalho Pinto, governador na época. Não lembro o ano exato, 65, 67, por aí”.

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Equipe RUA



Desvendando o estilo do jovem contemporâneo

Texto e foto: Bruna Garcia

Com as novas tendências de moda, o homem contemporâneo busca se cuidar mais e ampliar seu guarda-roupa. Observando as ruas de Santos nota-se que hoje em dia se vê muito mais garotos vestindo roupas cor-de-rosa e roxo, do que se via anos atrás.

Não é só isso. Há uma curva crescente no quesito vaidade masculina. Os jovens homens de 2010 se importam, sim, com a aparência, e não têm

vergonha alguma de admitir. Se estão com uma barriguinha já ficam preocupados, ou pelo menos tentam disfarçar.

Acessórios também estão se adaptando ao armário do homem contemporâneo. Um exemplo disso é o lenço ou o cachecol. Ultimamente não são só as mulheres que usam o acessório. Eles estão aderindo à moda de lenços de diferentes tecidos, estampas e cores. É o caso do radialista Leonardo Caetano (foto), de 29 anos. “Tenho oito modelos de cachecol e sempre levo um na mochila, se fizer frio estou protegido; também uso para a roupa ficar diferente”. Notou a vaidade?

Leonardo é um ótimo exemplo da (r)evolução no guarda-roupa masculino da última década. Usa roupas de todas as cores, adora chapéus e tem uma coleção de All-Stars de diversas cores e estampas, inclusive um cor-de-rosa melancia, que diz que compartilha com a namorada, que calça o mesmo número. Adora fazer compras e é super vaidoso.

Breno Ventura, de 25, também se cuida, mas de uma forma mais conservadora. O dentista está sempre com a barba impecável, roupas bem limpinhas e, ok, de vez em quando ele arrisca uma cor mais vibrante, diferente. “Na minha profissão a higiene é o mais importante, então me cuido para estar sempre bem nesse sentido. Fora isso, claro que tenho as minhas vaidades. Por exemplo, gosto de arrumar meu cabelo, passar uns produtos...”.

A mulherada agradece. Quem nunca ouviu uma garota dizendo que adora homem de rosa? Andrea Gaspar não foge ao padrão. A tradutora de 27 anos diz que “tem que ser muito homem para usar rosa”, e que essa cor valoriza, principalmente, os morenos. “Mas todos ficam lindos de rosa. Homem que usa essa cor mostra que está de bem com a masculinidade e não tem preconceitos, duas qualidades que atraem as mulheres”.

O comportamento dos homens em relação à moda mudou, assim como a moda vem acompanhando a história do homem. Nas ruas, tribos mostram diferentes formas de expressão, estilos de vida, gostos musicais e a maneira de se vestir é parte fundamental na distinção dos grupos sociais. Hippies, roqueiros, surfistas, skatistas, emos e coloridos. Só de ler a palavra você já imagina o estereótipo e o tipo de roupas que eles usam, certo?

A coordenadora do curso de Gestão de Moda da Universidade Santa Cecília, Nídia Fischer, diz que a moda é intrínseca a todos os aspectos da vida humana, e a sua história acompanha a história do mundo, dos países, das pessoas. Da mesma forma que as mulheres, hoje, aceitam melhor o seu lado masculino, trabalham e ganham dinheiro para se sustentar, e puseram de lado medos e inseguranças, os homens também estão lidando melhor com sua parte feminina, a vaidade, o cuidado, o carinho, e o detalhe.

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Gostar de se machucar

Por Maurílio Carvalho

“Quebrei a minha perna em um rolê na pracinha em frente ao Moby. Teve um final de ano que eu passei engessado!”, conta Fabiano Martins Pereira, o Biano, dono de uma loja de artigos de skate.

Biano nunca imaginou que o hobby iria virar o seu sustento: “Quando eu tinha de 7 para 8 anos, morava na rua Alamir Rodrigues, no Gonzaga. Foi quando eu vi o skate pela primeira vez. Meus pais não gostavam muito que eu andasse porque achavam que iria me machucar. Acho que por isso nunca me compraram um skate”.

Com 13 anos, Biano começou a trabalhar numa loja de videogame. Com esforço, comprou o primeiro skate. Aos 17 anos, surgiu a oportunidade de montar uma loja. Biano ficou em dúvida entre um estabelecimento para venda de artigos de games ou skate. Preferiu o seu hobby: “Tenho a loja faz dez anos e vivo do skate. Não tenho ideia do que seria se o skate não existisse, pois minha vida se resume a isso hoje”.

Aos 9 anos de idade, Douglas Amaral de Souza Pierre, o Doug, usava a rampa do prédio onde morava, no Conjunto Habitacional Athiê Jorge Cury, em Santos, para brincar de corrida sentado em skates. “Na época, minha mãe me deu dois skates fuleiros”, conta.

Quando tinha 11, Doug ficava admirado com o que seu amigo mais velho fazia com o skate: “Maurício mandava uns ollie, a manobra base do skate, e eu achava um máximo. Acabei comprando o skate dele por quarenta reais na época”.

Em 1998, Doug se mudou para a Avenida Conselheiro Nébias e começou a andar na Fonte do Sapo, lugar de encontro de skatistas na época. Daí para a Praça Palmares, complexo próprio para a prática do esporte em Santos, foi um pulo. Ou melhor, um ollie.

Você já deve ter percebido que o skate não é apenas um esporte. O skate é a cara da cultura de rua e um grande filão de uma grande indústria segmentada que fatura muito com a prancha com rodinhas. Vários jogos de videogame já foram lançados tendo o esporte como tema, sendo a série “Tony Hawk Pro Skater” a mais famosa entre os gamers. Na rua, o skate dita moda. “Você pode perceber que toda linha street wear é baseada no skate. Calças skinny, bonés de aba reta e diversos outros artigos estão ligados diretamente ao estilo dos skatistas”, conta Biano.

Para Biano, em Santos há uma mescla de esportes que não existe em São Paulo. “Acho que o pessoal de Santos não leva tão a sério o skate como em sampa. Aqui, os caras andam de skate e surfam, mas em São Paulo é só o skate e lá tem aquela coisa do cara querer ser skatista profissional, que não vejo aqui”.

Em relação à música que os skatistas ouvem, os estilos são variados, mas a preferência no som é o hardcore e o hip hop. Bandas como Millecolin, NoFX e Dag Nasty tem destaque, enquanto Cypress Hill e Beast Boys agradam aos fãs de rap. Um dos expoentes do hardcore nacional, o Dead Fish, surgiu da ideia de amigos que andavam de skate juntos em 1991, em Vitória, no Espírito Santo. Os garotos escutavam bandas como NoFX e Fugazi e resolveram fazer o próprio som.

No mundo dos games, o skate também tem grande presença. O primeiro jogo lançado com o tema foi Skate or Die!, da Eletronic Arts, em 1988. Já com grande fama e notoriedade no esporte, Tony Hawk deu nome para a série de jogos de maior sucesso dos videogames. Em 1999, surgiu o primeiro jogo da linha Tony Hawk Pro Skater, produzidos pela Activision. Em 2007, a Eletronic Arts subiu no shape novamente e lança o simulador Skate. Em maio deste ano foi lançado o terceiro jogo da linha.

O skate é um esporte em eterna evolução, mas que não fascina apenas por isso. A cultura criada em volta dele o torna um estilo de vida diferenciado do que vemos no nosso dia-a-dia, criando um universo fascinante que ainda fará a cabeça de muitos jovens por muito tempo!


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Equipe RUA

Dançando por uma vida melhor

Por Mariana Ayumi
Fotos: Divulgação


O grupo de dança de rua Action Dance atua há nove anos em Itanhaém. Os dançarinos, divididos em categorias infantil, juvenil e adulto, dão aulas gratuitas a jovens entre 7 e 17 anos de idade. A iniciativa faz parte do projeto Dança em Ação, que visa capacitar os aprendizes para posteriormente integrarem o quadro fixo do Action Dance. Mas a dança é apenas o pontapé inicial de uma série de desafios que o grupo enfrenta no dia a dia.


Histórias de alegria, tristeza, superação e aprendizado não faltam na bagagem de seus criadores, Renan de Souza Lima, de 24 anos; Fernando Ferreira Curcio (foto), de 23; e Nelson Elísio, de 30. Preconceito foi uma delas. “Todos achavam que a dança de rua era coisa de maloqueiro, de gente desocupada, mas agora essa imagem está começando a mudar”, diz Renan Lima.

Do gramado ao salão de ensaio

Para eles, a dança de rua não é apenas diversão, é a válvula de escape para esquecer e ao mesmo tempo aprender a sobreviver num mundo em que é difícil ser levado a sério. Depois de uma rotina de trabalho e estudos, 40 jovens comparecem ao ensaio diário com entusiasmo. Eles sabem que, para continuar no grupo, é preciso ser compenetrado e dedicar-se à tarefa.

O tal tom de brincadeira só existiu no começo do grupo, que surgiu da vontade de reunir os amigos para treinar novos passos e se divertir. “Tudo começou meio na brincadeira, fomos chamando os amigos mais próximos e montamos o grupo. Só na hora de ensaiar é que era difícil, pois não tínhamos lugar; então treinávamos em qualquer local, como no gramado da praia ou qualquer lugar que fosse amplo o bastante. Assim, fomos crescendo junto com o grupo”, conta Lima.


Responsabilidade social

Muitos jovens, quando começaram a frequentar os ensaios, perceberam que o Action Dance não era um grupo qualquer. Para ingressar, é preciso ter disciplina, conduta exemplar, boas notas e frequência escolar. “Teve garoto que quando chegou aqui, não concordava com as regras, com o bem coletivo; então teve problemas para se adaptar, porque exigimos que o jovem leve o projeto a sério e tenha responsabilidade; alguns acabam não aguentando, mas o que a gente quer é que ele fique e adquira essa responsabilidade”, diz Elísio.

Com carga horária de nove horas semanais, os ensaios exigem concentração e foco dos jovens, qualquer deslize pode colocar em risco a participação no grupo. A consciência da importância da dança também se aplica em relação às ações futuras desses jovens. “Depois que os meninos e meninas criam gosto por participar do grupo, eles têm a preocupação de se manter na linha. A menina sabe que, se ela engravidar agora, não vai poder mais treinar, se apresentar, não vai ter mais tempo para si. Com o menino é a mesma coisa, se ele tiver um filho não vai mais estar tão disponível para a dança, porque vai ter de criá-lo”, diz Nelson.

As drogas também fazem parte das páginas tristes da história do Action Dance. Curcio conta que muitos integrantes já saíram porque não conseguiam mais sair desse mundo. “As aulas não se resumem somente ao aprendizado. Nosso trabalho também tem o papel de ajudar essas crianças. Existem meninos que moram em pontos de tráfico, e muitos deles acabam entrando nesse mundo; conseguimos tirar alguns deles das drogas, e isso é que é o mais legal da dança. Então a gente quer mostrar que a dança pode mudar isso, que existe outro caminho”.


Rumo a Las Vegas... outra vez

Mas nas páginas do Action Dance não existem apenas histórias de problemas e infortúnios. Existem aquelas que, ao serem contadas, enchem os olhos dos criadores do grupo de orgulho. A sala de ensaios possui duas bancadas de troféus. “Melhor grupo do Mercosul na Argentina”, “Meeting Hip Hop School”, “Hip Hop International”, “Festival Internacional de Hip Hop”... Esses são alguns dos títulos impressos nos troféus. “Lá fora, a dança de rua é apoiada, as pessoas reconhecem o trabalho que fazemos”, diz Curcio.

A rotina de competições não é fácil. Os ensaios exigem muito dos dançarinos, que tentam conciliar trabalho, família, amizades e estudos com a dança de rua. Além desses fatores, vez ou outra eles precisam competir em outros lugares, alguns até mesmo fora do país, como foi o caso da última viagem, com destino a Las Vegas, nos Estados Unidos. Mas como vida de dançarino realmente não é fácil, um problema logo apareceu. “Todo o grupo foi tirar o visto no consulado americano. Chegando lá, eles não queriam liberar o visto para alguns e ainda disseram ‘Ah, é? Se vocês são dançarinos mesmo, então quero ver vocês dançando agora’”, relata Lima. E eles dançaram.

O que poderia ser considerada uma situação constrangedora, acabou se transformando numa demonstração de como o grupo era unido e tinha jogo de cintura para enfrentar qualquer condição. “Conseguimos o visto, exceto para um integrante, que não tinha como comprovar que tinha emprego fixo. Foi ruim ir desfalcado, mas nessas horas não dá para deixar se abater”, diz Lima.

O grupo não conquistou boa classificação na disputa, mas a experiência será uma das histórias mais marcantes para os integrantes do Action Dance. E nesse ano tem mais. Las Vegas os espera novamente. Só que dessa vez a bagagem vem mais pesada e os integrantes vêm mais preparados... até para dançar novamente no consulado, se for preciso.


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Equipe RUA